Não é exagero afirmar que a cultura ocidental está constituída sobre o culto ao falo e que essa ideia está tão enraizada no imaginário popular que ele, o falo, é considerado um forte símbolo de poder. Por isso, não é estranho perceber que tudo o que lembra um pênis ereto é associado a força, grandeza, coragem, autodeterminação, sucesso, vitória, conquistas e por aí vai. Subir o pico de uma montanha é um poderoso símbolo de proeza sobre-humana. Nas cidades, obeliscos, torres e arranha-céus são componentes da paisagem urbana que reforçam o imaginário de poderio e desenvolvimento econômico. Megacidades, por exemplo, disputam entre si a construção das maiores estruturas alongadas em sentido vertical do mundo como símbolo de dominação sobre as demais e a destruição desses símbolos é capaz de mudar a história da humanidade, tamanha é a força impregnada neles, como foi o caso da queda das Torres Gêmeas, nos Estados Unidos.
A associação do falo com a cultura ocidental é tão intrínseca que o próprio capitalismo o toma como fundamento imagético e identitário. Executivos capitalistas bem sucedidos apontando o polegar para cima, levantando o dedo indicador para o alto, fumando charuto, levando à mão até o saco escrotal, são expressões corporais bastante corriqueiras e por diversas vezes representadas em peças de marketing. “I want you” diz Tio Sam, homem velho e branco, apontando o dedo indicador em direção ao leitor na propaganda de recrutamento mais famosa das duas guerras mundiais. A representação do falo está em todo lugar e na constante disputa do quanto maior, melhor.
Entretanto, na cultura falocêntrica, não há espaço para mulheres e LGBTs, as quais tiveram que enfrentar esse símbolo ao longo da história para conquistarem igualdade e liberdade. Mulheres lutaram contra a gravata nos ambientes de trabalho e de protagonismo social e LGBTs enfrentaram o medo provocado no status quo ao promoverem a conciliação de dois pênis e a independência da vagina ao órgão reprodutor masculino. E diante desse enfrentamento ao capitalismo fálico, o contra-ataque veio sempre com peso desproporcional. No caso das LGBts, que haviam enfrentado a perseguição através da revolta de Stonewall, em 1969, marco histórico para a lutas organizadas de libertação e por direitos, a resposta veio por meio da associação dessa comunidade ao vírus HIV/AIDS, na década de 1980, o que dispersou um estado de medo e terror. Com mais lutas, a comunidade LGBT enfrentou esse ataque, conseguiu retirar a homossexualidade da lista internacional de doenças e, em diversos lugares do mundo, conquistaram o direito ao casamento civil e à constituição de uma família homoafetiva. Conquistas pontuais, mas bastante significativas, uma vez que diversas LGBTs ainda vivem dentro de um cenário de perseguição e violência. Vale lembrar que em 73 países a homossexualidade é considerada crime contra o Estado, sendo que em 13 deles a pena é de morte, e que na região da Chechênia avultam denúncias nos meios de comunicações internacionais sobre construções de campos de concentração para LGBTs. No Oriente Médio, assassinatos em massa são promovidas pelo Estado Islâmico e por outras organizações paraestatais. No Brasil, apesar dos pequenos avanços dos últimos anos, foi depois do golpe parlamentar de Estado, em 2016, acompanhado pela força conservadora e fundamentalista, que vimos ascender os maiores retrocessos aos direitos já conquistados.
Além de ser o país em que mais se mata e violenta travestis e transexuais, diversos programas de saúde, de educação e de cultura para a diversidade foram cancelados ou tiveram profundos cortes nos seus orçamentos e, no intervalo de poucos dias, a primeira exposição de arte com temática queer foi censurada e, por liminar da justiça federal, o Conselho Federal de Psicologia perdeu a chancela de cassar o registro profissional ou aplicar qualquer outro tipo de sanção a psicólogos que atendam indivíduos com finalidade de reorientação sexual ou façam estudos e pesquisas nesse sentido, motivo de crítica realizada por instituições ligadas a diversos campos de atuações e não apenas aquelas ligadas aos movimentos LGBTs.
O que há de observar nesse cenário atual é que, por mais de uma década, mulheres e LGBTs avançaram no que diz respeito a conquistas de direitos e que, diante do crescimento dos movimentos ligados à direita do estado mínimo e da agenda conservadora, promotores do capitalismo fálico, terão que promover um forte enfrentamento para conseguirem manter os direitos já conquistados e continuarem avançando. Para que isso seja viável só há um caminho viável: organizar a luta popular pela esquerda!

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