*Artigo publicado originalmente no Diário Popular do dia 25/04/2018.

O Governo do PSDB enviou para a Câmara de Vereadores um Projeto que cria o Programa de Parcerias do Município de Pelotas, que permite à prefeitura realizar parcerias com a iniciativa privada para qualquer serviço público. O problema é que nas Parcerias Público- Privadas, PPPs, as empresas utilizam a estrutura pública como opção de mercado e acabam recebendo como garantias o pagamento direto pelo poder público através dos nossos impostos ou do aumento e criação de novas taxas. Em Pelotas, a população já teve uma prévia do que possa vir, com o aumento da taxa da água e criação da taxa do lixo.

            Um dos – muitos – problemas do projeto é a retirada da obrigação de um plebiscito para que uma PPP seja realizada. Ou seja, para a prefeitura, a população não precisa ser ouvida, nem mesmo participar do processo de fiscalização dos serviços prestados, que serão pagos com dinheiro público. As PPPs são uma sociedade entre o ente público e o privado, onde no fim das contas uma empresa acaba com controle exclusivo de um serviço de interesse público, portanto, é a privatização de um serviço. Exemplo de entrega de serviços públicos à iniciativa privada em nossa cidade é o transporte coletivo, que é precário, sem controle da prefeitura e da população sobre itinerários, horários e valores das passagens. O serviço é caro e está aquém das necessidades da população pelotense.

            Outro problema do projeto é a entrega do patrimônio público como garantia, com a criação do Fundo Garantidor. Para os empresários não há riscos. Em contrapartida, o dinheiro do contribuinte pode estar sendo entregue para o bolso de poucos, já que o interesse para investimento nestes empreendimentos, geralmente vem de multinacionais, preocupadas com o seu lucro e não com o bem-estar da população

            No mundo inteiro as informações sobre PPPs são preocupantes. Desde 2000, 835 contratos de PPP, em 45 países, foram rompidos. Os motivos seriam os baixos investimentos e péssima prestação dos serviços. O Brasil é vice-líder mundial em reestatização da água e saneamento. Entre as cidades que fizeram PPPs para esta área, 62 % reestatizaram o serviço pois as empresas não atendiam as necessidades da população. Em Pelotas, o saneamento é o foco do projeto, sendo inclusive, uma das propostas de campanha eleitoral a universalização do serviço através de uma PPP. Se já sabemos que entregar para a iniciativa privada não funciona, porque a prefeitura de Pelotas quer insistir nesse erro?

            Existe outro caminho? Sim! Um projeto elaborado pelos próprios funcionários do SANEP para a universalização do saneamento em menos de dez anos, somente com investimento público e com valor significativamente menor que um projeto elaborado pela iniciativa privada, em 2015. Não há justificativa para que se faça uma PPP nessa área.

            Além disso, não podemos esquecer que a dita falta de recursos para investimento em serviços públicos foi aprofundada pela PEC 241 – a famosa PEC do teto – que foi aprovada pelos partidos que apoiam o governo de Pelotas. Para nós, a alternativa a esse tipo de proposta é a ampliação do debate democrático com a população, através da participação nas decisões, do controle social e, principalmente, que nossos impostos retornem em serviços públicos de qualidade e não para o lucro de alguns empresários. A mobilização da população é fundamental, pois somente através dela poderemos barrar este projeto que não contempla os interesses dos pelotenses.

Publicado por Fernanda Miranda

Professora, mãe, estudante de Psicologia, moradora do Areal Fundos. Estou vereadora no primeiro mandato do PSOL - Partido Socialismo e Liberdade - em Pelotas.

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