Atenção para o refrão!

Por Gilson Moura Henrique Júnior

Atenção ao dobrar uma esquina! Nos dias de hoje é bom que nos protejamos, que  saibamos que nenhuma teoria, nenhuma fantasia nem o algo mais nos salvará de morrer ano a ano, pra tentar no ano seguinte não morrer.

Mas não basta nos proteger, não basta oferecer a face a quem quer que seja, não basta saber que o que antes era novo, jovem, hoje é antigo. Não basta mais esperarmos, penseiros, o trem, a revolução, não bastam mais bons conselhos que nos dão de graça. 

É inútil dormir, pois a dor não passa!

Esperar sentados enquanto a roda viva carrega o tempo pra lá tampouco é sábio.

É preciso estarmos atentos e fortes, não temos tempo, é preciso gritar que é proibido proibir, que enquanto houver espaço, tempo e algum modo de dizer não, cantamos!

E é por isso que é preciso estar mais que atentos e fortes, é fundamental não temer os desafios da conjuntura e produzir mais que a resistência, mas o contra ataque.

Enquanto esperamos o trem, a revolução, a eleição, a força reacionária corporificada em Bolsonaro produz a morte de todos nós da classe trabalhadora, com fome e foco nos indígenas, pretos e pretas, LGBTs e mulheres. 

E se não temos mais tempo de temer a morte, precisamos antecipá-la e deixar de sermos sementes para nos transformarmos no nêmesis dessa galera que nos quer mortos.

Há mais que um crime de responsabilidade, há mais que uma razão há mais que uma necessidade de irmos para cima, sem esperar mai sum minuto sequer e vencer Bolsonaro e o pensamento que nos quer mortos, de fome, de raiva ou de sede.

Não podemos, jamais podemos, esperar que a conjuntura crie massa crítica para a vitória, precisamos produzir a vitória.

Enquanto esperamos o trem, a revolução, a conjuntura, irmãos morrem, parentes são sacrificados, manos e minas são executados, monas e trans são dilacerados.

E não estamos em uma peça de Pirandello ou num ensaio sobre a cegueira, estamos no concreto Brasil de 2020 e temos a responsabilidade histórica de irmos além do concurso elitista sobre a inteligência que perdemos e ainda pensamos ter e partirmos pra cima da massa fascista que nos quer destruir.

Temos de parar de gerir nosso capital político em oposição às pessoas com base em rótulos genéricos e organizarmos a resistência de forma a vencer o fascismo concreto que muitos abraçam e que nos quer mortos e jogados ao mar.

Não são os evangélicos ou os velhos de óculos escuros dentro do carro o problema, eles são muitos e muitas vezes não são bem o inimigo. Não são os pobres de direita os inimigos, os inimigos são os fascistas que organizam nossa destruição na prática.

E enquanto a gente finge que tenta uma unidade que jamais foi o projeto da maioria da dita esquerda, perdemos tempo e Bolsonaro tenta matar mais indígenas do que qualquer outro presidente já conseguiu, portadores de HIV são criminalizados, portadores de necessidades especiais são ameaçados de perderem benefícios, idosos e gente necessitada do INSS mofa nas filas, pretos e pretas são cada vez mais massacrados pela polícia e pelas políticas.

Temos pulmões fortes o suficiente para gritamos Fora Bolsonaro? Temos. E vontade? Precisamos ter.

E precisamos ter porque a espera é inimiga da perfeição.

Estão destruindo cada centímetro de conquista que tivemos como sociedade de 1988 até hoje, vamos esperar destruírem tudo até que tenhamos de refazer enquanto somos alvo de ataques de forças da dita esquerda, dos liberais e dos fascistas?

Vamos continuar tentando adequar nosso discurso ao suposto bom senso que guiou esse país pros braços do fascismo, evitando radicalidades ao ponto de transformarem Lênin em ditador e tentarem nos impedir de termos nosso legado, nossa história e nossa memória?

Vamos esperar pra sempre que as instituições funcionem como o ideal deseja, enquanto elas funcionam como forma construídas desde o Império?

Vamos aguardar pacientemente o momento inexistente em que sermos comunistas vai ser socialmente aceito quando apresentadores famosos corroboram como anticomunismo tratando todo o nosso legado teórico e prático como “crime de ódio”?

Tá na hora de pararmos de ser como Rosa Morena e irmos pro samba, que o pessoal já tá cansado de esperar.

Se a cada dia a Presidência da República e o governo cometem um crime de responsabilidade e de ódio diferente é nosso dever irmos pra rua para a cada dia construirmos um outro dia diferente pro amanhã.

Não há mais lugar para uma irresponsável omissão diante da responsabilidade de impedirmos o avanço fascista E para isso é preciso termos atenção para o refrão, sermos mais atentos e fortes para gritarmos: Fora Bolsonaro!

Não podemos ser aqueles que pregam que o povo precisa ir pra rua, precisamos organizar meios pro povo ir pra rua e defender a queda do pior e mais letal governo de nossa história.

Precisamos construir a conjuntura para que isso ocorra, precisamos produzir a partir da tendência de rejeição ao governo a massa crítica para sua queda.

Amanhã precisa ser outro dia.

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