Por Gilson Moura Henrique Júnior

Desde que Jair Bolsonaro assumiu a Presidência da República foram constantes os ataques a diversos setores e pessoas nas redes sociais e fora delas. normalmente com ênfase maior contra mulheres, mais recentemente os ataques foram na direção de duas premiadas jornalistas da Folha de São Paulo e Estadão: Patrícia Campos Mello e Vera Magalhẽs, esta porque divulgou o compartilhamento pelo Presidente de convocatória de atos que defendiam o fechamento do congresso.

Automaticamente a solidariedade às jornalistas foi amplamente divulgada e promovida por todos os setores, inclusive a grande maioria da esquerda. Como em todos os casos há minorias que fazem política e vida em sociedade baseadas no rancor e no fígado, ma snão foi o caso da esquerda, que em sua maioria manteve as críticas à imprensa, sem deixar de defender não só as jornalistas, mas também a liberdade de imprensa.

Já o contrário nunca ocorreu. Seja sobre o feminicídio político de Marielle Franco, sobre as ameaças de morte a Jean Willys, Talíria Petrone, David Miranda, Marcelo Freixo ou coletivamente ao PSOL Niterói, nenhuma linha foi gasta em apoio ao partido ou às figuras atacadas e ameaçadas.

Da mesma forma que os ataques misóginos dirigidos à deputada petista Gleisi Hoffmann não fez nenhuma indignação liberal aparecer na rua. Aliás, no decorrer do processo de impeachment, nem as ameaças nada veladas de morte a Presidenta da República, ao ex-Presidente Lula e até aos Ministros do STF, todos alvo de representação por manequins enforcados em atos públicos de rua, nem os francamente misóginos ataques utilizando fotografias de Dilma Rousseff (entre elas uma que a poria de pernas abertas na entrada de gasolina de um carro), jamais foram alvo de uma linha sequer, especialmente da jornalista Vera Magalhães, que anda efusiva na defesa da sua liberdade de imprensa, mas não teve a honradez de ir além de seus ódios políticos pessoais quando pediu a cabeça de Guilherme Boulos à Folha de São Paulo ou quando se omitiu em acusar as manifestações pró impeachment ou os ataques à Gleisi como parte do ódio político e do caldo cultural que embasa o avanço do fascismo em Terra Brasilis.

A questão aqui não é recusar o nosso mandato histórico de defesa das liberdades coletivas e individuais, mandamento socialista que fundou o Partido Socialismo e Liberdade e é parte fundadora de boa parte da esquerda brasileira, mas lembrarmos que a liberdade que interessa ao liberal é a liberdade exclusiva aos que apoiam o sistema e as reformas e conduções econômicas capitalistas.

À esquerda o liberal e o jornalismo liberal tratam usando o que estiver à mão, inclusive contra partidos nem tanto de esquerda assim, como fizeram ao optar por escolhas difíceis pró-Bolsonaro indicando que mesmo o desastre para a população que é a política econômica de Jair e Guedes são o caminho certo.

O ovo a sete reais? Recorde de despejos por falta de pagamento de aluguel? Trabalhador tendo que escolher entre morar e comer? Recorde de trabalho super explorado e mal pago? Liberal e jornalismo liberal trata chamando trabalho informal de emprego e ligando o bom senso flexível fingindo que tá tudo bem até explodir a revolta.

A esquerda, dane-se se do PSTU, do PT, PCB, PCdoB ou do PSOL, é sempre radical porque ousa minimamente discutir as plataformas que os jornais e jornalistas defendem? A resposta é sim. Da mesma forma que ataques à esquerda recebem o tratamento que Pedro Bial nos deu em rede nacional ao entrevistar Olavo de Carvalho em 2019 e ouvir dele que todo comunismo é crime de ódio: a omissão participativa do silêncio.

O que isso significa? Significa que temos de nos omitir na defesa da liberdade de imprensa e dos jornalistas como um todo, além da defesa das pessoas atacadas pelas milícias fascistas nas redes e fora delas? Jamais, porque isso [e nossa estrutura, nosso valor, é o legado deixado por nossas tradições onde critica e autocrítica existe até para pôr à prova figuras de enorme peso como Trotski e Lênin. 

Porque só na cabeça ignorante liberal, Lênin e Trotski não recebem ou receberam críticas por suas ações no decorrer da história e regimes comunistas ou apenas de esquerda forma livres das críticas que as múltiplas esquerdas fazem a si mesmas e aos demais, muito mais duras do que o jornalismo faz a qualquer regime.

Crítica e autocrítica fazem parte da base estruturadora da maior e mais longeva tradição política na e da esquerda, ou uma das mais longevas: o marxismo. Sabe a dialética materialista? Se funda na crítica, e portanto contém a autocrítica. Para ignorar isso tem que ignorar Marx ou ter a crítica e o pensador apenas no rol das leituras de orelha de livro ruim.

Qualquer pessoa mais ou menos inteirada das coisas, algo que o jornalismo adora achar que é, sabe que pouca coisa é menos Marxista que a URSS pós-Stálin e sendo que esta também têm pouco da sistematização marxista de uma teoria do Estado feita por Lênin e só guarda um cheiro ruim e parco da prṕria ideia de militância produzida por Vladimir pensando na resistência sob a ditadura czarista: o centralismo democrático. Sim, porque o centralismo democrático, concebido para fazer sobreviver uma militância que resistia à tirania, foi também distorcido por Stálin ao retirar a democracia do negócio.

A questão é que precisamos defender a democracia sim, mas indo além de como o liberalismo a trata, levando a palco o debate sobre a democracia socialista e sua radicalidade democrática onde não apenas o debate político é horizontalizado, mas também é descentralizado, contendo aí toda a política econômica, política por si só, ambiental e legal.

Também precisamos defender a liberdade de imprensa, do jornalismo, dos jornalistas e da circulação de informações, atuando ai para por no palco o debate sobre o controle das informaçòes por parte de jornais, jornalistas, rádios, TVs,etc, não com a carta das fake news na mão, mas com a carta da defesa da transparência das opções políticas expostas à mesa pelo jornal e mais ainda, na defesa da ampliação de canais informativos e de financiamento a eles, para que as populações tenham sim uma amplitude de informações dignas do nome e não apenas o jornalismo que ou mente a favor dos governos ou ostenta a dura envergadura da defesa da democracia e do jornalismo apenas restrito aos seus, que se sente atingido como mulher ou LGBT apenas quando suas mulheres e LGBTs são atingidas, mas silencia quando outros tantos são, inclusive a mais tempo, alvo das mesmas milícias virtuais e físicas, reais, do fascismo à brasileira.

Mas não nos enganemos, não haverá solidariedade a nossos e nossas, porque o alvo do jornalismo liberal e dos liberais não é a democracia, mas a fanfarra de uma falsa democracia restrita aos bons e crentes. 

A aposta em 2016 de derrubar Dilma para impor, na marra, o destruidor programa econômico ultraliberal deixou claro que para quem defende o que fizeram Aécio, Cunha et caterva, e deu em Bolsonaro, o que importa aqui não é democracia coisa alguma, nem desenvolvimento, tanto que adoram defender a destruição das universidades públicas

Não havendo solidariedade nos resta a motivação da defesa, assim mesmo, das liberdades individuais, jornalísticas, independente da cor partidária: nosso legado e o acerto político de desmontar a farsa que nos impõe o autoritarismo à revelia do bom senso dos próprios amantes de ditadura eleitos pelas escolhas difíceis.

A dificuldade disso tudo nunca foi nova para quem anos, décadas a fio, lutou contra o stalinismo E contra o capitalismo e teve muita luta para demonstrar os limites que tradiçòes de esquerda que seguiam o grande Brizola, e hoje se contentam com Ciro, e até mesmo os limites do lulismo.

Temos em nossa trajetória o dever de escolhas realmente difíceis, mas jamais organizadas em torno do oportunismo que mal escondeu o riso de hiena da busca do extermínio do outro, e sim construídas pelos valores que produziram tradições de esquerda que fizeram duras cosntruçòes e garantiram uma moral nossa que rivaliza com a deles, sem subterfúgios nem máscaras, mas com uma estrutura que é construída no compartilhamento de experiências de classe que nos dão a consciência que precisamos para seguir adiante.

A moral deles não é a nossa, a nossa é uma moral que não esconde que se necessário fará combates duros contra nossos inimigos, ao custo que tiver, mas que não fará disso um motivo para que desistamos do que somos e do precisamos ser.

Nossas balas são contra nossos generais e só saem de nossas armas depois de dado o primeiro tiro pelo inimigo.

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