Pretendo aqui refletir sobre as dificuldades das mulheres trabalhadoras em participar da política, em virtude das diversas violências que nos colocam à margem deste processo, assim como denunciar o machismo institucional que nos violenta. Para analisarmos a atuação da mulher nos espaços públicos, precisamos identificar empecilhos que nos impossibilitam uma maior participação na política. Exemplo disso é o serviço doméstico em que os homens, segundo dados do Ministério do Trabalho, dedicam menos da metade do tempo que as mulheres nessas tarefas. Além disso, recebemos os salários mais baixos, sendo que as mulheres negras recebem menos ainda.

Embora tenhamos avançado na participação feminina na política, ainda estamos distantes do ideal, já que somos mais de 50 % do eleitorado e não vemos essa representação nos espaços de decisão. Precisamos de mais políticas para o público feminino, de combate às desigualdades e às violências das quais somos vítimas. Essa necessidade fica explícita através da falta de projetos em prol de setores em que a maioria são mulheres como, por exemplo, no precário investimento em escolas públicas de educação infantil; na falta de políticas para a melhoria das condições de trabalho das comerciárias e demais trabalhadoras; com o não pagamento do piso do magistério, elevando o número de professoras trabalhando nos três turnos; quando vemos os cargos públicos de maior remuneração do município serem ocupados majoritariamente por homens, cargos esses com salários discrepantes em relação à maioria das municipárias, entre outros.

Como primeira vereadora do PSOL em Pelotas, tenho enfrentado muitas adversidades dentro da Câmara Municipal. Desde a diplomação, sinto na pele o machismo de diversas maneiras: quando a escolha da roupa que eu visto é mais importante que os atos políticos; quando um colega recebe os “créditos” por ter falado exatamente o que eu acabara de dizer; quando a mídia não noticia os debates que diariamente são promovidos por mim em diferentes atividades, principalmente de fiscalização e proposição de projetos; quando meus argumentos são desqualificados como se eu não tivesse condições intelectuais de pensar nos problemas da cidade; quando sou silenciada através da interrupção em minhas falas. Exemplo disso se deu na sessão do dia 19-9 quando, na discussão de um projeto, fui interrompida por mais de uma vez por dois vereadores. Um deles já havia falado por quase dez minutos sem nenhuma interrupção, enquanto que a mim não foi dado o mesmo tratamento, ficando nítido o machismo e tentativa de silenciamento. Tive que me posicionar fortemente e, somente depois de requisitar ao presidente da Câmara que minha fala fosse garantida, pude terminar minha intervenção.

Definitivamente, ser mulher em um espaço de poder é resistir! Precisamos deixar de ser uma cota eleitoral, que muitas vezes cumpre o papel de impulsionar candidaturas masculinas, para sermos protagonistas e ocupantes legítimas de todos os espaços, institucionais ou não. Precisamos fortalecer a luta contra o machismo, também na desconstrução da naturalização das opressões. Temos que unir nossas vozes, impulsionar nossas pautas e lutar sempre! Nos organizarmos coletivamente! Nosso mandato continuará ao lado de todas as companheiras por políticas que nos possibilitem igualdade de direitos e por uma sociedade onde todas nós possamos ser mais! Não nos calaremos!

Publicado por Fernanda Miranda

Professora, mãe, estudante de Psicologia, moradora do Areal Fundos. Estou vereadora no primeiro mandato do PSOL - Partido Socialismo e Liberdade - em Pelotas.

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