Que educação se faz sem espaço para o diálogo? A resposta para essa pergunta é muito simples: sem diálogo não há educação. É importante começar esse texto lembrando isso, pois parece que para algumas pessoas dentro da Secretaria Municipal de educação, estas reflexões estão bastante distantes de suas práticas. Em Pelotas, o que estamos vivendo é um verdadeiro ataque à educação através da falta de espaço para diálogo. Em todas as decisões comunicadas pela secretaria de educação em nosso município, o que está sendo colocado em primeiro lugar são os números e não cada ser humano que está envolvido nesse processo. São crianças, adolescentes e suas famílias, educadores e educadoras que estão sendo atingidos sem ter, no mínimo, direito de serem ouvidos.

Desde março, quando tivemos os primeiros casos confirmados de pessoas contaminadas pelo novo covid-19 em Pelotas, as decisões sobre a educação estão cada vez mais verticalizadas. Há mais ou menos um mês, a SMED, de um dia para o outro, decidiu que as aulas remotas que até então estavam sendo ofertadas para quem poderia acessar, começariam a contabilizar como horas letivas. O que fica evidente é que a SMED parte da ideia de que a necessidade no momento é pela contabilização das aulas. Atua de forma totalmente autoritária, sem espaço para contestação e sem levar em consideração que essa atitude, ao invés de auxiliar na aproximação dos alunos e alunas, acabam trazendo ainda mais problemas, como se as famílias já não tivessem tantos outros para resolver.

O que fica evidente é que as decisões dentro de gabinetes ignoram a diversidade de dificuldades que vão desde o mais básico neste momento. Parece inacreditável, mas a proposta da secretaria ignora que muitos alunos e alunas estão enfrentando a fome, a moradia precária, problemas de violência. Mas, a preocupação é o número de acessos e realização de atividades. Relatórios são exigidos, aulas devem ser elaboradas e o contato com os alunos devem ser feitos via whatssap e facebook, o que faz com que os professores e professoras estejam trabalhando quase 24h por dia. Muitos professores sem complementação de carga horária, inclusive. É essa educação que vai nos tornar seres melhores em meio à pandemia?

Onde está a empatia, esta palavra, tão lembrada pela SMED em diversos momentos, porém, tão pouco executada? Onde está a empatia com aqueles que não têm como acessar a internet e que igualmente são alunas e alunos da rede pública e que deveriam estar sendo incluídos dentro de qualquer proposta de educação? Onde está a empatia, quando não se colocam no lugar dos responsáveis que não estão conseguindo dar conta das inúmeras tarefas que a vida têm trazido e se sentem culpados por não conseguirem ajudar seus filhos e filhas nas tarefas? Onde está a empatia, quando a única opção que se dá aos que não têm acesso é esperar até tudo acabar e tentar recuperar (sabe-se lá como) o que não for acessado agora? Será que realmente estão pensando nestas pessoas? É essa educação que queremos?

Diante de tudo isso, no entanto, a comunidade escolar não ficou calada e se organizou para solicitar providências e se fazer ouvir em um momento em que todos estão sendo impactados. O movimento UNI Pelotas, formado por professoras, professores, alunas, alunos e responsáveis pelos discentes está fazendo uma grande mobilização pelas redes sociais denunciando este processo verticalizado e construindo aquilo que deveria partir da gestão: uma proposta de educação que seja elaborada a partir da realidade de cada pessoa envolvida. Uma educação, de fato, empática e transformadora.

Ironicamente, exatamente na semana em que estamos votando o Novo Fundeb no Brasil, um debate importantíssimo que toda a comunidade escolar deveria estar acompanhado, a SMED Pelotas chama os professores e professoras do município, pela primeira vez, para as primeiras reuniões em meio à pandemia. Infelizmente, Temos uma secretaria de educação que não sabe dialogar, que continua ignorando a realidade da grande maioria dos alunos e que insiste em promover uma educação remota que não está dando conta da totalidade dos problemas que os alunos e alunas estão enfrentando neste momento tão crucial em nossa sociedade.

Por fim, ao menos uma boa notícia em meio a todo esse problema e atropelo de decisões equivocadas: O Novo Fundeb foi aprovado! Vitória da luta da comunidade escolar! Através destes exemplos que vamos conseguir resistir e nos organizar. Por aqui, através de chamamento do movimento UNI Pelotas, será realizada uma audiência pública, no dia 27/07, Às 14h, para debatermos e construirmos a educação que queremos. A SMED pode ter a caneta na mão, mas nós temos uns aos outros e não desistiremos de lutar por uma educação para todos e todas!

Publicado por Fernanda Miranda

Professora, mãe, estudante de Psicologia, moradora do Areal Fundos. Estou vereadora no primeiro mandato do PSOL - Partido Socialismo e Liberdade - em Pelotas.

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